O ensino de Desenho e Geometria para a escola primária na Bahia (1835-1925)
DOI:
https://doi.org/10.23864/cpp-v2-n1-121Palavras-chave:
Desenho, Geometria, Ensino Primário, BahiaResumo
O trabalho de pesquisa investigou o processo de escolarização dos conhecimentos de Desenho e de Geometria na Bahia, no período compreendido entre os anos 1835 e 1925. Interessou, em última instância, interrogar o processo histórico de surgimento, mudanças e permanências do Desenho e da Geometria como saberes para a escola de ensino primário na Bahia. Adotou-se como recorte temporal o período compreendido entre os anos 1835 e 1925, cujos limites demarcam a instalação da Assembleia Legislativa Provincial da Bahia e o consequente estabelecimento da primeira legislação educacional da província; e a Lei nº 1846 de 14 de agosto de 1925, que reforma a Instrução Pública do Estado sob a direção de Anísio Spínola Teixeira. Para realização da pesquisa, analisaram-se leis e decretos promulgados no período; documentos encontrados nos arquivos públicos do Estado e de municípios da Bahia; livros didáticos e manuais encontrados nas bibliotecas do estado e das antigas escolas normais; revistas pedagógicas e exames escolares. Os pressupostos teórico-metodológicos adotados para a condução das análises foram os da História Cultural, de Roger Chartier (1990), e os da História das Disciplinas Escolares, de André Chervel (1990). Para este, as disciplinas são criações singulares do espaço escolar e se instauram no campo das práticas pedagógicas. Depreende-se, por conseguinte, que o modelo disciplinar dos saberes de Desenho e Geometria constitui-se uma invenção da escola. Para aquele, o processo de significação da realidade se configura como uma construção coletiva. É possível, nessa perspectiva, compreender os sentidos atribuídos ao ensino de Desenho e Geometria como fruto de um contínuo processo de interpretação e apropriação dos discursos. Os resultados apontam para a constatação de que o processo de constituição do Desenho e da Geometria como saberes escolares, para o ensino primário na Bahia, se instaura entre avanços, permanências e retrocessos. O sentido atribuído ao ensino de Desenho e Geometria pela escola não está posto de uma vez por todas e continua em transformação. A Geometria, que se instaurou como ferramenta para o ensino de Desenho na escola primária nos tempos provinciais, paulatinamente foi ganhando autonomia como modelo disciplinar.Referências
BARBOSA, Emiliano Cortes. Escola Politécnica da Bahia: poder, política e educação na Bahia republicana. (1896-1920). 2010. 272f. Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, 2010.
BASTOS, Maria Helena Câmara. A instrução pública e o ensino mútuo no Brasil: uma história pouco conhecida. História da Educação. ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas (1): 115-133, abr. 1997.
BOLIVAR, A., DOMINGO, J., FERNANDEZ, M. La investigacion biográfico-narrariva en educacion: enfoque y metodologia. Madrid: La Muralla, 2001.
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes, AMADO, Janaína (org.). Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de Historiador, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
BRANDÃO, Verônica de Jesus. Práticas curriculares nas escolas públicas primárias: um estudo das teses apresentadas nas Conferências Pedagógicas em Salvador (1913-1915). 2012. 118f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Salvador, 2012.
CARNEIRO, Zoraide de Oliveira Novais Carneiro et al. A Criação de Escolas a partir de critérios demográficos na Bahia do século XIX: Uma viagem ao interior. In: ERIVALDO, Fagundes Neves (org.). Sertões da Bahia: formação social, desenvolvimento econômico, evolução política e diversidade cultural. Salvador: Editora Arcádia, 2011.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. O debate sobre a identidade da cultura brasileira nos anos 20: o americanismo de Anísio. In. SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. MARIA, Cristina Menezes. (org.). Anísio Teixeira 1900-2000: provocações em Educação. Campinas, Ed. Autores Associados, Bragança Paulista, SP: Universidade São Francisco, 2000.
CATANI, Denise Barbara. A imprensa periódica educacional: as revistas de ensino e o estudo do campo educacional. Revista Educação e Filosofia v.10, nº20, p. 115-130, jul.- dez. 1996.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Editora Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 1990.
CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, v. 2, p. 177-229, 1990.
DENFERT, Renaud. Uma nova forma de ensino de desenho na França no início do século XIX: o desenho linear. História da Educação, Pelotas, n. 22, maio/ago. 2007.
_____________________. O ensino de matemática nas escolas primárias na França (1880 - 1960): implicações socioculturais de uma escola de massas. Tradução de Maria Célia Leme da Silva e Maria Cristina de Araújo Oliveira. Caminhos da Educação em Matemática em Revista v. 1, nº1, 2014.
DIAS, André Mattedi. Engenheiros, Mulheres, Matemáticos: Interesses e disputas na profissionalização da Matemática na Bahia (1896-1968). 2002. 310 f. Tese (Doutorado em História Social). Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002.
FARIA FILHO, Luciano. Instrução Elementar no Século XIX. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes e VEIGA, Cynthia Greive, 500 anos de educação no Brasil. Autêntica, Belo Horizonte, 2011.
GOMES, Maria Laura Magalhaes. Lições de coisas: apontamentos acerca da geometria no manual de Norman Allison Calkins (Brasil, final do século XIX e início do XX). Revista Brasileira de História da Educação. Campinas-SP, v. 11, nº 2 (26), p. 53-80, maio/ago. 2011.
HAMILTON, David. Mudança Social e mudança pedagógica: a trajetória de uma pesquisa histórica. Porto Alegre: Teoria e Educação, n. 6, 1992.
LORENZ, Karl Michael et al. A influência francesa no ensino de ciências e matemática na escola secundaria brasileira do século XX. II Congresso Brasileiro de História da Educação. 2002. Disponível em: <http://www.sbhe.org.br/novo/congresso/cbhe2/pdfs/Temas3/0306.pdf> Acesso em: 02 de agosto de 2014.
MENEZES. Jaci Maria Ferraz de. Anísio Teixeira, Secretário da Educação na Bahia Educação na Bahia. In.: MENEZES. Jaci Maria Ferraz de. (Org.). Coletânea de textos. Projeto memória da educação na Bahia. Ed. da UNEB, Salvador, 2001.
MOACYR, Primitivo (1939). A instrução e o Império. 2º v. Brasiliana Eletronica. Disponível em: http://www.brasiliana.com.br/obras/a-instrucao-e-as-provincias-vol-ii. Acesso: em 23 de setembro de 2014.
MONARCHA, Carlos. Brasil arcaico, Escola Nova: ciência, técnica e utopia nos ano 1920-1930. Editora UNESP, São Paulo, 2009.
MOREIRA, J. Roberto. Introdução ao estudo do currículo da escola primária. Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. INEP, Rio de Janeiro, 1955.
NÓVOA, António. O passado e o presente dos professores. In LOPES, Eliane Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes e VEIGA, Cynthia Greive, 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte, Autêntica, p. 95-134. 2000
NUNES, Antonieta d Aguiar. Fundamentos e politicas educacionais: história, memoria e trajetória da educação na Bahia. Publicatio Ciências Humanas, Linguistica, Letras e Artes. UFPG, 2008. Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/humanas/article/view/637/620. Acessado em: 15 de julho de 2014.
_____________________. Manuel Raimundo Querino: seus artigos na revista do instituto geográfico e histórico da Bahia. Revista Faced, Salvador, n.14, p.169-174, jul./dez.2008 Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/entreideias/article/view/3353. Acessado em: 05 de fevereiro de 2015.
ROCHA, Lúcia Maria da Franca; BARROS, Maria Lêda Ribeiro. A Educação Primária Baiana: grupos escolares na Penumbra. In: VIDAL, Diana Gonçalves (org). Grupos Escolares: cultura escolar primária e escolarização da infância no Brasil (1893-1971). Campinas/SP: Mercado das Letras, p. 173-192, 2006.
LORENZ, Karl Michael. VECHIA, Ariclê. First experiences with object lessons in nineteenth-century Brazil: origins of a progressive pedagogy for the Brazilian primary school. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 5, n. 14, p. 125-134, jan.-abr. 2005
SANTANA, Elisabete Conceição et al. A construção da escola primária na Bahia: guia de referências temáticas nas leis de reforma e regulamento (1890-1930). vol. 1. Salvador. EDUFBA, 2011.
__________________.A voz dos professores baianos no início da república: a revista do ensino primário (1892-1893). Revista HISTEDBR On-line. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, nº 36, p. 70-82, dez. 2009. Disponível em http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/36/art06_36.pdf. Acessado em: 19 de janeiro de 2015
SILVA. Maria Conceição Barbosa da Costa. O ensino primário na Bahia: 1889-1930. 1997. 147 f. Tese (Doutorado em educação), Faculdade de Educação, Universidade Federal do Estado da Bahia (UFBA), Salvador, 1997.
TAVARES, Luiz Henrique Dias. História da Bahia. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro. 1959.
__________________.Duas reformas da educação na Bahia: 1895-1925. Centro Regional de Pesquisas educacionais da Bahia. Salvador BA. 1968.
__________________.Fontes para o Estudo da Educação no Brasil. 2ª ed. Universidade do Estado da Bahia: UNEB. Salvador, 2001/2002
TRINCHAO, Glaucia Maria Costa. O desenho como objeto de ensino: história de uma disciplina a partir dos livros didáticos luso-brasileiros oitocentistas. 2008. Tese (Doutorado em História) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2008.
VALENTE, Wagner Rodrigues. SILVA, Maria Célia Leme da. (Orgs.). A geometria nos primeiros anos escolares: História e Perspectivas Atuais. Editora Papirus, Campinas, SP, 2014.
VALENTE, Wagner Rodrigues. Tempos de Império: a trajetória da geometria como saber escolar para o curso primário. In: Revista Brasileira de História da Educação. v. 12. n. 3(30), p. 83 Set/dez. Campinas- SP. 2012.
__________________. A educação matemática na escola de primeiras letras 1850-1960: Um inventário de fontes. São Paulo: Ghemat/Fapesp, 2010. (DVD).
__________________.Uma história da matemática escolar no Brasil (1730-1930). São Paulo, Annablume: FAPESP, 2002.
VIDAL, Diana Gonçalves. Culturas escolares: estudo sobre as práticas de leitura e escrita na escola primária (Brasil e França, final do século XIX). Autores Associados, Campinas, SP: 2005.
__________________.A imprensa periódica especializada e a pesquisa histórica: estudo sobre o Boletim de Educação Pública e a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v.73, nº 175, p. 407-430, set./dez. 1992.
VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Os tempos e os espaços escolares no processo de institucionalização da escola primária no Brasil. Revista Brasileira de Educação. Mai./Jun./Jul./Ago. nº 14. 2000.
VILLELA, Heloísa de Oliveira Santos. O mestre-escola e a professora. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes e VEIGA, Cynthia Greive, 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Editora Autêntica, p. 95-134. 2000.
SAVIANI, Dermeval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, V.14, nº 40, Jan/Abr. 2009.
SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de civilização. São Paulo: Editora UNESP, 1998.
ZÓZIMO, Álvaro. Sempre a serviço da educação: Uma experiência de vida de mais de oitenta anos. Salvador- BA, 1998.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
TERMO DE RESPONSABILIDADE Título do trabalho: Nome completo do (s) autor (es): O(os) autor(es) vem por meio desta declarar que o trabalho acima citado, enviado para publicação na Revista COM A PALAVRA, O PROFESSOR é um trabalho original, que não foi ou está sendo publicado em outro periódico, quer seja no formato impresso ou eletrônico. Declaro (amos), também que: 1)O presente trabalho está em conformidade com os Artigos 297 a 299 do Código Penal, Decreto-Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940; da Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, sobre os Direitos Autorais. 2)Participei (amos) da construção do trabalho e desejo (amos) tornar pública nossa responsabilidade referente ao seu conteúdo. 3)Declaro (amos) que o uso de qualquer marca registrada ou direito autoral dentro do manuscrito foi creditado a seu proprietário ou a permissão para usar o nome foi concedida. 4)Declaro (amos) que todas as afirmações contidas no manuscrito são verdadeiras ou baseadas em pesquisa com provável exatidão. 5)Caso o trabalho envolva seres humanos, enviaremos também a autorização do Comitê de Ética e Pesquisa.